domingo, 27 de dezembro de 2015

O sentido Cabalístico da ablução das mãos

O sentido Cabalístico da ablução[1] das mãos

Há nas Halachot[2] na Mishná Berurá (1:2) [3]:

                                                                 
         

“ Assim que acordar e não desejar dormir a pessoa deve abluir as mãos, imediatamente, ainda que permaneça deitada na cama”.

O cabalista que preserva a linhagem de Rabenu HaAri HaKadosh[4] de abençoada memória, assim que desperta segue os seguintes passos iniciais para o “Serviço do coração[5]

 Ao acordar realiza as seguintes tefilot[6] iniciais:

1 – Shiviti Adonai Lenegdi talmid[7]
                                                     
                                                     

2 – Modê (Mulheres devem pronunciar: Modá) Ani Lefanechá Melech Chay Vekayam Shehechezarta Bi nishmati Bechemlah Rabah Emunatechá[8]
                                                             

A partir do 3º passo adentramos nas chamadas “Bençãos da aurora” – Birchot Hashachar. A ablação das mãos.

A referência a Halachá (Lei) de lavar as mãos ritualisticamente é encontrado no Sêfer Tehilim[9] (26:6):

“Lavarei com limpeza as minhas mãos e circundarei o teu altar, ó D´us, para que se façam escutar palavras de gratidão”.

Desta forma cada um de nós[10] realiza a mesma pratica que era destinada ao Cohên (Sacerdote) ou santificar as mãos[11] diariamente antes de realizar o serviço do Templo.
 Uma outra interessantes razão para o cumprimento desta Halachá:

Durante o sono nossa alma se desprende do corpo, o que atrai um espirito de impureza que fica próximo do corpo. Quando despertarmos o espirito de impureza se afasta do corpo porém sua “influência” permanece sob os dedos, se desprendendo deles após a ablução das mãos três vezes de forma alternada.

Procedimento[12] :

Enche-se um utensilio com água é derrama-se está água 3 vezes intercaladas em cada uma das mãos, primeiro da direita depois da esquerda.

Depois se recita a seguinte “Brachá[13]”:

Baruch Atah Adonai Eloheinu Melech Haolam Asher Kideshanu Bemiçvotav Veçivanu Al Netilat Yadaym[14].




Observação: Se a lavagem for feita sob uma bacia ou balde a água que se encontra neste recipiente deve ser descartada não deve ser utilizada, de forma alguma porque ela passa a ser impura.




[1] Lavagem ritualística de acordo com a Halachá (Lei Judaica).
[2] Leis judaicas –Referente aos procedimentos ao acordar.
[3]  Livro referente as leis judaicas . Obra  escrita pelo Rabino Ysrael Meir Hacohen conhecido como Chafêtz Chaym.
[4] O Mestre Cabalista Isaac Luria  Ashkenazi ben Shlomo,
[5] Talmud Bavli  Taanit – 2A .
[6] Orações, plural de “Tefilá” do hebraico.
[7] Tenho posto o Eterno (Senhor) diante de mim.
[8] Dou graças a Ti o Rei vivo existente que devolveste com misericórdia grande é nossa fé em Ti.
[9] Livro dos salmos.
[10] Inclusive as mulheres.
[11] A Ablução das mãos- Lavagem ritualística das mãos.
[12] De acordo com o Sidur –Livro de orações Rinat Yisrael.
[13] Benção.
[14] Bendito sejas Tu, Eterno, Nosso D´us Rei do universo, que nos santificaste com os teus mandamentos e nos ordenaste lavar as mãos.

sábado, 26 de dezembro de 2015

O ato de esvaziar e preencher o recipiente – Kli

                                                                       


Todos nós já escutamos o milenar ditado popular de esvaziar a “xícara”. Para que um determinado recipiente possa receber ele precisa esvaziar.

O ato de esvaziar também se refere a característica de preparar o recipiente, se você desejar beber um vinho e a sua taça estiver cheia ela de forma natural vai transbordar.

O ato de esvaziar o “recipiente” é um código cabalístico.

Você já deve ter escutado inúmeras vezes que o ato de esvaziar traz uma maior produtividade um sentimento de maior compreensão ou maturidade quanto a um determinado fato.

Há algumas ações entre o estado mental e físico que favorecem o ato de esvaziar. Como ler, escrever, escutar uma música, cantar, costurar, caminhar e até tomar um banho.

E este esvaziamento ocorre devido a alteração da frequência de um determinado estado para outro.


No livro  do Mestre Schneour Zalman de Liadi o “ Likutei Amarim Tanya,”há a “chave ou ferramenta” para aplicar o código de esvaziar como de preencher ao (recipiente). Em apenas três palavras:


Pensamento, fala e ação.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A Providência Divina - Hashgachá Pratit


                                     
 

Certa vez , em uma das sinagogas de Belém do Pará,o Sr.  Abraham um velinho sempre de bem com a vida compartilhou um pouco de seu vasto conhecimento sobre o sábio Baba Sali[1] ZT”L:



... O Sábio Rabino achou estranho que um dos seus discípulos não tinha aparecido para as aulas da tarde e para as orações. Perguntou para um de seus colegas o que tinha acontecido com ele:


- Mestre, não sei como dizer, mas o seu discípulo favorito vai casar e prefere não chamá-lo.


O Sábio Rabino sem entender nada mandou chamar seu discípulo. E quando ele chegou perguntou:

- O que tens ? vais casar e não desejas me dá a honra de te acompanhar nesse momento tão importante da sua vida? 

- Mestre, não convidei porque sabia que  praticamente toda cidade estaria no casamento e não tenho dinheiro para comprar duas garrafas de vinho...

- Ah, então é esse o problema ? Eu levo o vinho.

O discípulo sorriu e saiu, uma semana depois após a cerimônia religiosa do casamento, enquanto os convidados chegavam o jovem discípulo pensava como iria atender a demanda dos convidados ....

Então Baba Sali chega trazendo uma garrafa de vinho e um lenço branco, envolve a garrafa e serve mais de trezentas pessoas, com aquela garrafa.

O discípulo sem entender nada pergunta:

- Mestre, o que está acontecendo ? Como o senhor fez isso ?

- Eu nada fiz. Isso é providência Divina. Deixe de tentar entender tudo é vá brindar sua taça com os convidados.

Foto de Guajará (Fotógrafo de Belém do Pará). Referente à Sinagoga Essel Abraham, que significa na tradução poética para o português "Arvoredo de Abraão ".Fundada em 1824 pelo judeu marroquino Abraham Acris,localizada na rua campos sales.

[1] Rabi Yisrael Abuhatzeira ou Baba Sali (Marrocos,1889-Netivot, Israel,1984).

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Observe o referencial



Este texto foi escrito em 10 de dezembro de 2014, há exatamente um ano atrás.Durante um curso de vinhos no Senac/SP.

                                                                       


Hoje realizei uma analise comparativa. Ferramenta que aprendi nos tempos da faculdade. Ela é bem simples e eficaz, se refere a um determinado evento que você observa e como um elemento ou dado amostral você  de maneira simples compara.
O interessante é verificar isso quando há características próximas, porém com um referencial totalmente diferente.

Mais cedo enquanto me deslocava para o trabalho conversei um pouco no telefone com um amigo carioca que infelizmente só consegue ver o lado negativo de suas experiências. Ou melhor, alimenta mais essa percepção em seu dia á dia.
Confessou-me que estava cansado por ter de acordar muito cedo e de ter que aguentar estresse e pessoas indesejadas.

Sugeri que ele fosse pescar em um momento desses de turbulências emocionais e neurais, eu sempre indico o mar, praia ou ir pescar.

Bem mais tarde por volta das 21:30 no meu curso de vinhos, uma jovem moça compartilha um pouco de seu dia e experiência de vida. Com seus 25 anos já é mãe de duas filhas, casada trabalha em uma padaria com seu esposo, todos os dias acorda bem cedo, junto com o galo para preparar a massa e assar pães, depois realiza o atendimento de café da manhã e segue no trabalho até chegar o horário do curso de vinhos.
O professor do curso perguntou como ela lidava com o estresse:

- E simples professor, acordar cedo não é uma obrigação é uma dádiva, por ter condições de criar as minhas filhas, mesmo na correria do dia a dia ser amada pelo meu marido e alimentar o meu sonho de um dia me tornar sommelier e poder aprender em um curso como esse.

Eu contabilizei que essa moça trabalha mais de 12 horas por dia, dorme menos de cinco horas, cuida de duas crianças. Mas qual a diferença dela para meu amigo carioca ?

O referencial, a forma como se olha a vida...


Boa parte das conquistas de nossos sonhos se dá com uma visão “favorável” de nosso referencial.


                                                                        

sábado, 5 de dezembro de 2015

Relendo o livro



בס"ד



                                                                   
                                                       
Certa vez um piedoso russo, fez questão de atravessar cidades em pleno inverno europeu para fazer uma pergunta para um sábio cabalista conhecido como “ O Senhor do Bom Nome”:



            - Mestre, porque temos de voltar para a terra, depois de nossa morte, porque temos de passar por outras vidas ?



O sábio sorri, olha nos olhos daquele piedoso Peregrino é responde:




Refinamento e retificação. Assim como re-lemos um mesmo livro para extrair uma nova mensagem e ensinamento em nosso cotidiano, o Santo Bendito seja seu nome, nos favorece para que possamos observar vários prismas de uma mesma visão, todo ano, celebramos as mesmas festas, ou percebemos a natureza mudar com as estações. Assim podemos tomar consciência que todo ano, teremos um novo inverno, ainda que ele seja único. Por isso que temos de re-tornar. Além de ter a felicidade de encontrar alguns velhos amigos de jornada.





quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O Pão da vergonha e a auto-anulação (Bitul)


 בס"ד
                                                                                  



Há um interessante conceito na cabalá conhecido como pão da vergonha, que consiste em receber algo sem merecer, burlando ,ludibriando,enganando ou roubando. Por exemplo uma determinada aluna se formou em geografia, mas na verdade ela comprou seu TCC conseguiu então se formar, mas como ela comprou seu TCC e treinou para a sua apresentação, ela não possuía o real conhecimento acadêmico que deveria ser adquirido.

Em um dado momento de sua vida, ela precisou exercer o conhecimento que ela deveria ter,nesse momento ela sentiu uma determinada angustia,por vezes acompanhada de tristeza,os cabalistas denominam esse sentimento com o termo: O Pão da vergonha.

E ele automaticamente leva a consciência do “Bitul” Auto-anulação e transmutação[1](mudança favorável) do ego em humildade.

A primeira oração que um cabalista que segue a linhagem de Arizal[2]  faz pela manhã ao acordar  e o “Mode Ani”[3]:

מודה אני לפניך מלך חי וקיים שהחזרת בי נשמתי בחמלה רבה אמונתך

O interessante é que na tradução do hebraico para o português temos :

Agradeço a Tí, Rei da vida (vivo) e da existência, que devolveste(com misericórdia) em mim minha alma. Grande é a minha fé em Tí.

Que é um exemplo claro de bitul ou seja auto-anulação....

Nossos sábios ensinam que nesta oração seria mais correto no hebraico falar “ Ani Mode”, ou seja eu agradeço,  ao invés de “Mode Ani” agradeço eu. Porém como certa vez ensinou-me  o Rabino Disraele Zagury.:

“Nos jamais deveremos começar nosso dia com “Ani”  ou seja com o “eu”.Todos os problemas do mundo apresentam relação com o “eu”:

- Feriu o meu “eu”;

- Não atendeu o meu eu;

 Por isso deixamos o “eu” para segundo plano. Então na oração é  Mode Ani e não Ani Mode...

Essa é uma oração (reza) diferente de todas as outras orações, porque pronunciamos  ao abrirmos os nossos olhos até mesmo antes de lavarmos as nossas mãos, a boca e higienizarmos o corpo.


[1] Transformação.
[2]   Mestre Isaac Luria, em hebraico יצחק לוריא, foi um conhecido estudioso e místico , fundador de uma das ramificações  da cabalá, ensinando no seu sistema místico a transmigração  das almas. 
[3] Sendo uma "Halacha" - Lei encontrada no kitsur (Shulchan aruch - 1:3).


{Obs} = Imagem retirada do site AHkemfoco


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Ao bom combate

                                 

Após horas no treino da esgrima japonesa um dos alunos pergunta para o Venerável Mestre Karmiel quando poderia descansar.

 A sua resposta até hoje vibra na alma de cada uma das espadas de seus alunos:

- um guerreiro jamais descansa, sempre estaremos travando algum combate em alguma determinada área.